O T I R O

                                                                          

 

 

                                                                          

O  Rbau, nas suas memórias, descreveu o nosso batismo de fogo, que aconteceu ainda na deslocação para Pangala, ao passarmos por uma ponte já depois de Cuimba.  Não é dos tiros recebidos e dados nessa altura que vos quero falar.

 

Quando chegámos a Pangala, encontrámos apenas uma casa inacabada rodeada de capim bem alto e já seco.  Para passar a noite utilizámos o método dos colonos americanos na sua passagem pelos territórios indios;  carros postos

em circulo e o pessoal a dormir dentro.  Colocaram-se sentinelas em vários pontos com os sargentos a fazerem ronda aos pares.  fFz par com o Ribau e só me lembro de ouvir uns estalidos parecidos com uma tesoura  ao cortar arame. suficiente para ficar assustado.  No dia seguinte, tratámos de limpar o terreno para instalar as tendas.   Os sargentos ficaram numa barraca de posto de socorros (éramos 11). Quando mudámos, quatro meses depois, vimos uma cobra a sair de lá.  Enquanto tratávamos da instalação, um pelotão (creio que foi o 2º.) foi procurar água, uma preocupação que nos acompanhou todo o tempo que permanecemos em Pangala.  O 3º, saiu de patrulha (a primeira) para o mato, saida que durou dois dias. Dormimos em pleno mato num pequeno planalto sem qualquer árvore.  Recordo-me de quando o dia raiou, termos avistado na encosta do monte ao lado um bando de gazelas que pastavam.  Demos alguns tiros só para as ver saltar.  

 

Chegados ao acampamento, soubemos que tinha sido descoberto água MAS TINHAMOS que construir um acesso pois a fonte ficava ao fundo duma ravina onde só se chegava a pé. 

 

Naquela manhã, com o outro pelotão (2º?), dirigimo-nos para o local.  Iamos armados e como ainda não sabíamos nada dos terroristas e para não ser surpreendido levava a FBP (aquela porcaria de arma) com a culatra puxada atrás, pronta a disparar.  Quando saltei do carro ao verificar a posição

em que levava a arma e já mais confiante, com a mão levei a culatra à frente.; ouviu-se um tiro.  Tínha-me esquecido de tirar o carregador.   Assustado, olhei para os soldados que estavam ao meu lado e perguhtei –alguém está ferido?.  Não, responderam todos.  Ia a dar um passo e fui ao chão.  Tinha sido eu o atingido.  Ainda estou por perceber como consegui dar um tiro na minha virilha.

 

Miranda

 

publicado por gatobranco às 15:50 | link do post | comentar