Mãe, simplesmente Mãe

                                   MÃE, SIMPLESMENTE MÃE

 

 

Ela, era a mãe de um simples soldado. Vivia na sua terra, só, pois o  marido tinha falecido havia uns tempos. Era pescador numa traineira da pesca da sardinha, que ao entrar na barra com o intenso nevoeiro que se fazia sentir e com a falta de radar que naquela altura ainda não estava instalado na traineira, como a pesca tinha sido muito boa a traineira vinha carregada de sardinha da proa à ré ,“pesada” como se dizia na gíria, bateu contra o molhe e afundou-se, tendo falecido grande parte da tripulação.

 

Recebi a notícia lida num jornal que vinha a embrulhar uma encomenda de um companheiro de guerras.

 

Conhecia a maior parte dos tripulantes, alguns meus colegas de escola, outros desconhecidos, pessoas mais velhas, onde reconheci o pai do tal soldado, que se encontrava no Leste de Angola. Perguntei à minha mulher como tinha reagido aquela mãe, que, viúva e com o filho longe…sem mais ninguém…

 

- Mal, muito mal, foi a resposta. Anda aí pela rua gritando:

 

- O mar levou-me o marido. Os “outros” o meu filho. Malvados.

 

Era mais uma mãe. Simplesmente uma mãe só no mundo. Como tantas naquele tempo.

 

 

                 Ângelo Ribau Teixeira 

 

(Ex-Combatente em Angola, CCE 306, 62/64) 

publicado por gatobranco às 09:45 | link do post | comentar