UM DE JULHO

 

 

 

Um de Julho de dois mil e doze

Breve é a nossa passagem pela vida

Parece que foi ontem. A dor é a mesma! A saudade fere com igual intensidade mas a revolta cresceu, acumulou-se.

Jovens generosos deram a sua vida por uma causa que todos auguravam perdida.

Foi lá para o Norte de Angola, na estrada S. Salvador – Cuimba, antes de o cruzamento para Pangala, aquartelamento da nossa Companhia de Caçadores Especiais nº 306. Um jipe da  coluna de reabastecimento accionou uma mina anticarro transformando-o numa amálgama de ferros torcidos pintados com o sangue dos ocupantes.

O Armando Barriguinha, o Adelino Carvalho e o José Monteirinho pereceram de imediato.

O David o sempre bem-disposto David, o amigo incondicional de todos nós, sobreviveu.

Com os cuidados do médico e do enfermeiro, das nossas preces e  juras raivosas de retaliação, manteve
um sopro de vida até à madrugada do dia seguinte.

 O coração parou, o rictus de dor adoçou-se e os lábios entreabriram-se numa prefiguração daquele
sorriso muito seu.

Foi há cinquenta anos.

 

(J. Eduardo Tendeiro)

publicado por gatobranco às 15:53 | link do post | comentar