AS TRANSMISSÕES DA CCE 306

 

 

O SERVIÇO DE TRANSMISSÕES DA CCE 306 EM PANGALA
 
Em qualquer cenário de guerra, o serviço de transmissões é cada vez mais indispensável.
Desde a antiguidade (estafetas, sinais de fumo, bandeiras ) até aos mais recentes meios electrónicos de comando bélico a distância, a recepção de relatórios e a transmissão de ordens são suportados pelos meios de comunicação concentrados nos serviços de transmissões.
Quando rebentou o conflito independentista nas colónias ultramarinas, Portugal estava muito mal preparado no campo das transmissões militares.
As primeiras colunas que em 61 demandaram o norte de Angola, fizeram-no praticamente sem qualquer apoio de comunicações próprias. Nas suas deslocações serviam-se dos emissores-receptores dos Chefes de Posto, se tinha a felicidade de os encontrar no seu caminho.
Só em 62 os batalhões que iam chegando foram dotados com um aparelho americano de amplitude modulada, fornecido no âmbito da NATO, o “AN/GRC-9” com uma  unidade de alimentação que permitia a sua instalação em viatura ou estação. Estava ainda dotado de um acessório que, em campanha, gerava corrente suficiente para o seu funcionamento. Era a “bicicleta” um aparelho em que o militar montado nele pedalava para gerar corrente.
Foi com este aparelho que os Batalhões que demandaram as zonas de conflito fizeram a ligação Batalhão-0sector,Companhia e os pelotões comunicavam entre si.
Mais tarde, com a aplicação de um amplificador de sinal de saída, foi possível construir uma rede de emergência que ligou as companhias operacionais ao Comando de Luanda que se revelou bastante eficaz no pedido de evacuação de feridos.
 
 
O AN/GRC-9 com gerador de campanha
 
Posteriormente foi fornecido às Companhias operacionais um aparelho inglês, o HF-156 que se revelou ineficiente para a ligação entre pelotões e pelotão-companhia.
Eficaz somente a curtas distâncias e na ligação terra/ar,mas pouco usado dada a rara frequência dos meios aéreos nos teatros de operações. Era transportado “em mochila” pelo operador.
 
 
O HF-156 transportado pelo operador
 
 
Desde os primeiros momentos, o AN/GRC-9 foi o nosso meio de comunicação.
Em instalação precária, em estação, ou montado em viatura permitiu-nos contactos indispensáveis para a consecução das missões planeadas.
 
 
                                                                                                           O AN/GRC-9 nos primeiros dias em Pangala      
 
 
 
Montagem do AN/GRC-9 num Unimog
 
Em função das viaturas destinadas a cada operação, era necessário montar os aparelhos, ensaiá-los atribuir códigos de comunicação. ( Os “famosos” Cobra, Papagaio, Lagarto e tudo o mais que se inventava)
Na viatura são visíveis os sacos de terra, dispositivos anti-mina
 
 
                                                                                                                        Centro de comunicações da CCE 306
 
 
 
Em primeiro plano uma relíquia da última Guerra – o BC1000 – mais conhecido pelo “Monstro”. Funcionando em FM , concretizava ligações terra/ar e, a curta distância, assegurava o contacto entre o Comando da Companhia e os pelotões ou secção em missão.
Em segundo plano o AN/GRC-9 com amplificador acoplado assegurando, de hora a hora, a ligação Companhia/Batalhão.
 
Com material tão precário e particularmente desadequado ao cenário de guerra no Norte montanhoso de Angola, não é de espantar que, ainda hoje, alguns operacionais falem das falhas das transmissões
 
Na equipa das transmissões da CCE 306 não podemos deixar de citar a presença incontornável do cabo cifrador, O Octávio que, a qualquer hora do dia ou da noite, sem protestar, estava sempre pronto a receber uma mensagem cifrada e transformá-la num “claro” legível. Pelas suas mãos passavam todas as notícias que saíam e chegavam, nem sempre as melhores, infelizmente.
O Octávio no hall das transmissões
 
 
 
Seria injusto não citar ainda os rádio-telefonistas de cada um dos pelotões, que carregando o aparelho, asseguravam tanto quanto possível a ligação do pelotão à Companhia onde os cabos radiotelegafistas do Comando da Companhia, incansáveis, a qualquer hora, garantiam a recepção.
 Tinha uma boa equipa e entre nós reinava um são espírito de camaradagem e trabalho.
Como tantas vezes lhes disse, repito-o aqui com agrado:
 
OBRIGADO, RAPAZES.
 
J. E. Tendeiro ex-sargento de transmissões da CCE 306
Fotos : DN e do autor do texto
publicado por gatobranco às 13:00 | link do post | comentar