O S.P.M. ( Serviço Postal Militar
O S.P.M. (Serviço Postal Militar)
Era o dia 25 de Dezembro de 1962. Tínhamos passado a noite de consoada, ceando todos juntos, tentando esquecer o lugar onde nos encontrávamos. A noite de consoada tinha passado, não sem alguma dificuldade. Era dia de Natal, não havia operações, mas o serviço de ir à água, e a segurança ao acampamento, não poderiam ser esquecidos…
Almoçámos e andávamos por ali tentando consumir o tempo, passeando pela parada ou entrando numa ou noutra caserna a meter conversa com o pessoal, que se mostrava pouco interessado em conversar. Normalmente, a maior parte desses militares estavam deitados nas suas camas, barrigas para cima e o quico a tapar-lhe os olhos. Dormiriam?!
Vou andando. Entro na caserna do “meu” pelotão. A mesma calma, o mesmo silêncio. Só o Cabo Braga sentado na cama escrevia um “bate estradas”. Aproximo-me:
- Então meu furriel? Interroga-me, mas ao que me pareceu, sem esperar resposta! Só para meter conversa…
- Tudo bem, respondi encolhendo os ombros!
Nisto ouve-se muito ao longe um ruído nosso conhecido. Apurámos o ouvido.
- Eh meu furriel. É um Teco-Teco (nome por que eram reconhecidos os pequenos aviões de reconhecimento) diz o Braga alvoroçado. É correio, é correio…
A palavra ecoou por todo o acampamento, e toda a gente apareceu na parada, de nariz no ar. É correio, é o nosso Comandante do Batalhão, que nos vem trazer o correio. Hoje é dia de Natal e é ele mesmo que vem. Já nos acenou!
Como não tínhamos pista de aterragem, o avião deu a volta por cima do campo de futebol, como a indicar-nos que era ali que iria largar a encomenda! Todos se dirigiram para lá.
Então o avião larga um saco pequeno e a seguir outro maior.
Ao bater no chão o saco pequeno rompe-se e dele saem muitas amêndoas. Quase ninguém ligou e todos se dirigiram para o saco maior que ao bater no chão continuou intacto.
- É o correio, é o correio gritava-se. Cuidado ao abrir não se vá romper alguma carta. Não se rompeu ao cair porque é papel…
O saco foi aberto com cuidado…
- Ora porra, diz o militar que se encarregou de o abrir, ao verificar o seu conteúdo: - Figos passados do Algarve…
Toda a gente desmobilizou, desmoralizada.
Os figos foram entregues na cozinha para serem distribuídos ao jantar.
Fiquei por ali maldizendo a nossa sorte, quando me aparece o “Puler”
- Eh meu furriel, ninguém apanhou as amêndoas, posso eu ir apanha-las?
- Olha que estão cheias de pó…
- Não faz mal. Eu lavo-as…
Ângelo Ribau Teixeira (CCE 306 Angola 62/64)